24 março 2008

Insight do fracasso (alheio)


Fui assistir ao Grande Prêmio da Malásia de Fórmula 1 no apartamento de meu amigo Albano. Estive na companhia de Allan, Mé, Brunella, entre outros. Saí de lá às seis da manhã e, apesar de não ter bebido, só cheguei em casa graças à carona do Allan. E com o pensamento fixo na cabeça de que Felipe Massa é um fracasso.

Sério. Pensando um pouco melhor, previ um futuro pouco glorioso para o brasileiro da Ferrari. Em cinco anos, Massa vai continuar sem títulos mundiais na Fórmula 1. De quebra, ainda vai estar se despedindo da equipe italiana para correr em uma equipe mediana, como a Toyota ou a Red Bull. Talvez seja até motivo de piada.


É evidente que a comparação com Rubens Barrichello é automática, o que torna as coisas ainda mais cruéis para Massa. Até porque Rubinho sempre teve talento e um carisma elevado entre a torcida brasileira. Nas épocas de Jordan e Stewart, alcançava resultados incríveis com carros apenas medianos. Com a equipe de Jackie Stewart, apesar de competir contra carros superiores, como Ferrari, McLaren, Williams e Jordan, conseguiu o segundo lugar no GP de Mônaco (1997) e três pódios em um ano (1999).

Em 2000, Rubinho foi para a Ferrari e, enfim, conquistou a primeira vitória da carreira. É claro, porém, que aquele GP da Alemanha só criou ainda mais expectativa na torcida brasileira, carente de um herói desde 94. Mimados que fomos por Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna, achávamos que um brasileiro só poderia estar em uma equipe como a Ferrari para ser campeão. Sem sabermos que não era para vencer que Rubinho havia sido contratado.

Evidentemente, ele ajudou em seu próprio processo de achincalhamento público. Desde a época pré-Ferrari, incorporou o espírito de líder de uma nação – vide os capacetes especiais nos GPs do Brasil (foto). Nós, é claro, acompanhamos. Só que Barrichello soube se livrar de tal pressão com o tempo (embora ainda acredite que possa conseguir bons resultados com mais um fraco carro da Honda). Nós não; cobramos dele até o fim que está por vir.

Rubinho virou motivo de chacota, e Felipe Massa também pode virar. Embora as condições entre ele e Kimi Raikkonen e ele sejam menos desiguais do que eram entre Michael Schumacher e Barrichello, Massa igualmente incorporou o espírito de “serei campeão”, e não parece disposto a se desfazer dele por um bom tempo. Começa até a soar um pouquinho petulante.

É evidente que é demasiado cedo pra falar em desvantagem dentro da equipe – afinal, foram apenas duas corridas realizadas neste ano. Porém, Kimi vem de um título mundial e já venceu corrida neste ano. Por mais que seja completamente possível uma reviravolta na temporada (basta lembrar dos diversos cenários de 2007), é inegável pensar que o finlandês teria que se justificar menos se tivesse cometido um erro em Sepang.


Por isso, há boas chances de a história absolver Rubens Barrichello. No futuro, ele deverá ser lembrado como um piloto talentoso que se deixou seduzir pela chance de correr na maior equipe do mundo, e que acabou se frustrando por encontrar uma realidade incompatível com os sonhos nos quais ele estava mergulhado. E o principal álibi de Rubinho será Massa, que tinha completas condições de brigar pelo título e não soube administrar a própria vaidade, rebaixando-se a segundo piloto apenas por ter perdido uma briga em condições iguais.

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Essa previsão, porém, não é apenas minha. Quando o finlandês Mika Hakkinen concedeu esta entrevista para Felipe Held, afirmou que seria natural que a Ferrari se voltasse para Raikkonen, relegando Felipe (o Massa, não o Held) à condição de segundo piloto. Hakkinen tinha alguma razão, mas não sabia nem de metade do problema. De fato, o bicampeão não sabia do tamanho do problema que o brasileiro criou para si.

27 novembro 2007

Rumo a Tóquio

O futebol não é emocionante pra quem só acompanha São Paulo e Flamengo disputando a Taça das Bolinhas, ou para quem acha que o Chelsea e o Milan têm torcida. Nããão... O futebol de verdade está em jogos de XV de Piracicaba, Nacional de Patos, Barras-PI, Crac, Hermann Aichinger-SC e de tantos outros times menores que a TV – fora a Rede Vida – não exibe.

O futebol de verdade esteve presente no dia 11 de novembro de 2007, no Estádio Eduardo José Farah, em Presidente Prudente. Na manhã de garoa fina daquele domingo, os laranjas do Oeste Paulista e os alvirrubros da Itapirense fizeram o segundo jogo da final da Série B do Campeonato Paulista. E a Série B do Campeonato Paulista é mais do que um campeonato; é um mundo à parte.

O contexto

São nada menos do que 48 times, representando todo o estado de São Paulo naquele que talvez seja o maior campeonato estadual do país. E isso porque a Série B, chamada também de Segunda Divisão, é equivalente apenas à quarta divisão do Paulistão – está abaixo das séries A-1, A-2 e A-3. Para situar vocês do tamanho deste campeonato, cada uma das divisões superiores tem 'apenas' 20 times.

Os 48 times são divididos em seis grupos regionalizados com oito equipes cada, de forma que nenhuma equipe mais fraca tenha que atravessar o estado logo de cara. O Oeste Paulista estava no Grupo 1, ao lado de Tupã, Atlético Araçatuba, Ranchariense, Presidente Prudente, Assisense, Ilha Solteira e Paraguaçuense. Com 10 vitórias e dois empates em dois jogos, o Opec passou pela primeira fase como líder da chave, sem muitas dificuldades.

Houve facilidade também na segunda fase, quando o time laranja terminou o Grupo 7 na primeira colocação. Para trás, ficaram Atibaia, Inter de Bebedouro, Velo Clube, Elosport e Osasco. Foram 10 jogos, com seis vitórias e dois empates. Já estávamos entre os oito melhores da divisão, e bem próximos do acesso à Série A-3 – aquela de 20 clubes.

A participação no Grupo 11 começou bem, com um empate fora de casa (2 a 2 contra o Ecus) e duas vitórias em casa (2 a 1 no Força e no Lemense). A coisa complicou quando o time perdeu duas partidas fora de casa (3 a 0, novamente frente ao Força e ao Lemense), mas uma vitória por 2 a 1 no Esporte Clube União Suzano em pleno Prudentão garantiu o time no módulo superior do Paulistão. De quebra, uma combinação de resultados deu à Laranja Mecânica (nós) a liderança da chave e a chance de disputar a final contra a Itapirense, líder do Grupo 12.

As duas equipes empataram em 1 a 1 o primeiro jogo em Itapira e o título seria decidido em Presidente Prudente. O Opec jogaria em casa, com a vantagem do empate (por ter feito melhor campanha na primeira fase) e como favorito à vitória. Uma derrota teria uma proporção tão cataclísmica que a eventualidade já era chamada de Prudentanazzo.

“Abrem-se as cortinas, e começa o espetáculo!”

Eu dei sorte de tirar folga no trabalho e decidi que seria a oportunidade de acompanhar o time da minha cidade no dia mais importante de sua curta história. Era a primeira vez que eu assistiria o Opec in loco – já que o carro do Luiz quebrou na tentativa anterior, à caminho do estádio – e a primeira vez que eu assistiria um time da minha cidade ser campeão. Nunca antes, com Corinthians de Prudente ou com a Prudentina, eu tive a honra.

Por isso, decidi chamar o Luiz de novo, mas esses compromissos imbecis das faculdades o seguraram em Maringá. Decidi então chamar o Fernando, irmão dele e que faz parte da Força Jovem Oeste Paulista. Combinamos que eu apareceria na casa dele no domingo de manhã, e de lá iríamos para a marcha triunfal do Oeste Paulista.


Assim combinamos, assim foi feito. Deixei meu carro em frente à casa dos Costa e o pai dos meninos nos levou. Chegamos com um pouco de atraso, e ainda encaramos fila para comprar o ingresso a cinco mangos – final da quarta divisão é isso aí! Quando adentramos o setor verde do Prudentão, nos deparamos com umas 5 mil pessoas e com o jogo rolando.

De um lado, Michael; Nuno, Ramon e Thiago Lobó; Rodriguinho, Jordi Guerreiro, Juninho, Vitor, Itamar; Jaime e o artilheiro Tarabai representavam o time da casa, comandado por Juliano Gerlin. Do outro, Evandro; Richard, Dinho, João Paulo e Dick; Batista, Willian, Veiga e Marcinho; Ricardinho e Faísca atendiam às ordens de Paulinho Ceará, treinador da simpática Esportiva Itapirense – que não trouxe muita torcida (vide foto). O árbitro era Élcio Paschoal Borborema.

O jogo começou morno e contrastava com o dia frio. Como a pouca ação em campo se resumindo às tentativas de Itamar, era bem mais legal observar a movimentação do estádio. A torcida do time tem duas baterias para incentivar, sendo uma composta basicamente por adolescentes chatos de escolas particulares que fingem que tocam (foto) e outra bem melhor, que mora perto do estádio e que manja do tum-qui-ti-cum-dum. Os cantos da torcida não diverge muito dos que são copiados das organizadas de São Paulo ou dos clássicos “lêêêê, lê-lê-ô, lê-lê-ô, lê-lê-ô, lê-lê-ô, Oeste!”. No fosso do Prudentão, a molecadinha se divertia brincando de rebelião em um quiosque desativado e com cara de cadeia.


O jogo esteve desanimado até os 34 da etapa inicial, quando Tarabai arriscou um chute de longe que o goleiro Evandro aceitou. Delírio da torcida laranja, que promoveu uma bizarra avalanche em um estádio vazio, rumo ao alambrado. Do outro lado do estádio, no setor amarelo ocupado pela torcida itapirense, a garrafa gigante de Guaraná Funada – torcendo descaradamente para os visitantes – tentava se animar.

Momento antes e depois: Itapirense sente o crescimento (opa!) da
garrafa de guaraná após o acréscimo de guaraná da Amazônia na fórmula.


O apoio do guaraná fez efeito, e a Itapiriense empatou três minutos depois, em cabeçada indefensável do craque Faísca. O resultado ainda dava o título ao Oeste Paulista, mas a sensação de Maracanazzo Caipira começava a preocupar alguns dos torcedores.

Até que Élcio Paschoal Borborema encerrou o primeiro tempo.

Show do Intervalo

Os 20 minutos entre um tempo e outro serviram para que Fernando e eu déssemos uma volta pelo Prudentão lotado. A certeza de encontrar um conhecido era grande, mas não houve nenhum encontro inesperado no intervalo. De fato, tudo o que fizemos foi comprarmos uma garrafa de Guaraná Funada cada um. Um dos quiosques do estádio vendia a camisa nova do Opec a 60 mangos, enquanto um palhaço da prefeitura (!!!) distribuía bandanas da Samsung (!!!!!!!), solenemente rejeitadas pela torcida.

É claro que tudo isso se tornou obsoleto quando eu avistei um tiozinho com a camisa do Novorizontino. Considerando-se que o time está licenciado do futebol profissional desde 99, encontrar uma camisa aurinegra por aí é uma verdadeira raridade.

É claro também que eu encostei no tiozinho, interrompi sua conversa e pedi para tirar uma foto. Ele topou e fez pose comigo. Comovido, eu convidei o amigo dele para sair na foto com a gente. Péssima idéia.

E o imbecil aqui mal saiu na foto!


Enquanto isso, a ação no campo estava prestes a retornar a plenos pulmões. Antes que perdêssemos o apito inicial, Fernando e eu corremos para os nossos lugares – não que faltassem outros até melhores na arquibancada, longe disso. Os 45 minutos finais estavam prontos para se desenrolar.

“Autoriza o árbitro!”

A etapa decisiva, mais uma vez, foi mais de observação do que de futebol. A imberbe organizada continuava com seus cantos e a garrafa gigante continuava rígida sob o efeito de guaraná da Amazônia. A garoa apertou um pouco mais, mas logo cessou. O temor pelo Prudentanazzo ainda era latente, mas foi embora junto com a ameaça de chuva.

Isso porque aos 16 minutos, enquanto o céu se abria de maneira quase simbólica, o árbitro apitava um pênalti para o Oeste Paulista. O time atacava pelo flanco direito, mas Tarabai – eu acho – foi derrubado assim que entrou na área. Mão apontada para a marca da cal (provavelmente Votorantim), e bola a 9,15m da baliza alvirrubra da Esportiva. Na cobrança, o camisa 11 Jaime.

Era o momento de fulminar, de fazer o que o trio Ademir-Jair-Chico não havia feito há 57 anos. A torcida pedia seu gol. Jaime tirou as mãos da cintura e correu em câmera lenta.



O encontro da bola com a rede foi a fagulha que explodiu a torcida. Jaime correu para o alambrado, virou-se de costas e apontou os polegares para o número 11 de sua camisa. A molecada – inclusive eu, que mal sabia quem era o Jaime – estava pendurada no alambrado, vibrando como se aquele gol tivesse dado o título da Copa do Mundo para nós. E, de certo modo, era isso mesmo.

A partir daí, os minutos se arrastaram em tentativas dos dois times e de gritos de olé vindos dos quase 5 mil prudentinos presentes. Os garotos se penduravam no alambrado e tomavam um toma-jeito da Polícia presente. Já era quase uma da tarde quando o árbitro pediu a bola. Éramos os campeões da quarta divisão.

“Acabooou! É tetraaaa!”


O fim do jogo não foi o início da festa, que já havia começado minutos antes. Os jogadores se juntavam a nós no alambrado. A essa altura, não haveria policiamento que contivesse a turba. Jaime, Nuno e Juliano Gerlim há muito haviam cedido e comemoravam conosco.

A Federação, estranhamente, não abriu o portão de acesso ao gramado – o que parece ter sido uma idéia inteligente, já que a passagem era perigosamente pequena para tanta animação. Decepcionante foi o palco montado lá do outro lado do gramado, o que impossibilitou oficializar a festa mais perto de nós. O time atravessou o gramado do Prudentão para receber o troféu, enquanto nós esfriávamos os ânimos do lado de cá.


Foi aí que Clóvis me achou, em um daqueles encontros que não aconteceram no intervalo. Conversamos e comemoramos juntos. O Oeste, medalhado, iniciava sua volta olímpica. Loucura de Fernando, minha e dessa gente sofrida, meu Deus! Olhem as criancinhas!

Way back home

A missão estava cumprida, e Fernando e eu precisávamos ir para casa. É claro que eu não deixaria de pegar um churros de doce de leite a R$ 1,50. E depois de eu insistir para irmos a pé ao estádio, já que é mais charmoso, descobri que teríamos que voltar caminhando. Nada ruim, já que a distância não é tão longa e o sol havia desistido de acordar naquele domingo.

Palhaçadas, igrejas de nomes estranhos, caminhos errados e pouca voz depois, nós estávamos de volta ao Jardim Paulista, onde eu havia deixado meu carro, onde Fernandinho enterrou seu coração e onde havíamos sidos deixados para fora de casa. Calhou de que o pai dele havia ido nos buscar, como nós combinamos e esquecemos. Risadas de todo mundo, convites para almoçar e a felicidade reservada aos campeões.

Que passaram em frente à casa dos Costa, carregando o troféu no banco de trás de um Cross Fox. Nossa camisa ganhou uma buzinadinha.

Era muito bom ser campeão.

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17 junho 2007

Os chatos têm razão

No início do mês, a Federação Internacional de Automobilismo anunciou um acordo para hospedar o Grande Prêmio da Europa na Espanha a partir de 2008. Porém, diferente do que já havia acontecido há alguns anos na terra do bicampeão Fernando Alonso, a corrida não acontecerá em Jerez de la Frontera, e sim, em Valência.

A cidade, que já conta com o autódromo Ricardo Tormo (foto), irá ganhar um novíssimo e charmoso traçado de rua na zona portuária. O investimento virá dos cofres públicos locais, sob a alegação de que a chegada da Fórmula 1 à cidade irá ajudar a vender a capital da Comunidade Valenciana para o mundo. Foi o suficiente para que uma horda de chatos surgisse do nada para reclamar, como sempre.

Como de praxe, muita gente criticou a decisão de Valência – especialmente os próprios valencianos. Não faltou quem pedisse que os representantes locais investissem mais em outras prioridades (o transporte público foi um dos citados). E apesar de ser uma opinião repetida ad nauseum nos quatro cantos do mundo, não dá para tirar a razão de quem cobra mais atenção a questões básicas, sejam elas de saneamento básico na Índia ou de desemprego na França, ao invés de baixar a cabeça para grandes jogadas.

É uma dialética com a qual já convivemos há muito tempo no Brasil. Em 69, quando marcou o milésimo de seus 1282 gols, Pelé “comemorou” em meio a repórteres ensandecidos pedindo mais atenção às criancinhas. Mas nem mesmo o alerta dado pelo Rei em um dos momentos mais importantes do futebol mundial serviu para que evitássemos um fiasco anunciado como os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro. Independente do sucesso esportivo da competição, um evento que simplesmente ignora o orçamento inicial, como fez o Pan, não pode ser levado a sério.

Convenhamos: o Rio de Janeiro tem problemas mais prioritários do que construir um novo estádio (belíssimo, reconheçamos) ou reformar uma série de instalações esportivas. Inicialmente, o prefeito César Maia (DEM-RJ) alegava que os cariocas ganhariam muito com o Pan, que ajudaria a desenvolver setores como o transporte público da cidade, entre outras balelas. Como viu que não colou, o prefeito apareceu na propaganda de seu partido empunhando a bandeira de “Pan do Brasil” e afirmando que a competição das Américas é o passo definitivo para o projeto dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016.

Pronto. Depois dos projetos Brasília-2000, Rio-2004, Rio-2012 e Copa do Mundo de 2014, também embarcaremos nessa. Coisa de países emergentes, como China, Índia e Brasil, que escondem seu sem-número de problemas básicos com obras suntuosas, ausentes até mesmo em países desenvolvidos. Talvez César Maia nem saiba, mas o Tribunal de Contas da União já avaliou as cifras e as estruturas esportivas do Pan do Rio – e só do Rio – como olímpicas. E isso nem é bom.

O que ganhamos com isso? Receberemos o Pan em julho, a Copa em 2014, as Olimpíadas em 2016, a sede da ONU em 2030 e o Rio irá virar capital do mundo em 2047? Se o Brasil deixar de ser desigual, violento e pobre até lá, OK. Mas se César Maia já leu Mein Kampf (Minha Luta), de Adolf Hitler, talvez tenha levado muito a sério o início do segundo capítulo, que diz que “o Estado é um meio, e não um fim”.

Escrito em 1926, o livro das teorias de Hitler é um festival de bizarrices que, em resumo, defende que uma nação é o reflexo da superioridade de uma raça mais pura. De acordo com Hitler, “a condição essencial para a formação de uma humanidade superior não é o Estado, mas a raça”. País de mestiços, o Brasil não tem condições de adotar uma política tão descabida quanto à “purificação” e “seleção” racial. Como alternativa, parece buscar sua afirmação como nação fazendo festa e carnaval, ao invés de buscar políticas eficientes para violência, educação, desemprego, saúde, educação, miséria, transportes...

O Brasil é um país de heróis como Zagallo e que passa tempo demais discutindo a camisa do “técnico” de nossa “seleção”. Não admira que uma competição como os Jogos Pan-americanos ganhem tanta importância por aqui, terra na qual uma portuguesa coloca um chapéu de frutas para dançar e ganha o mundo dizendo “bananas is (sic) my business”. No fim, certo está o valenciano chato, que pede mais atenção ao transporte público do que à Fórmula 1.

Adicionais
- Alguém sabe onde a FIA pretende colocar tantas corridas nos próximos anos? Só se escuta falar de GP da Índia, de Valência, da Coréia do Sul, de Cingapura, da Rússia, dos Emirados Árabes...
- Aliás, pela lista de países, a gente vê que o Brasil não é o único emergente a esconder seus problemas com obras suntuosas.
- Será que Valência precisa mesmo da Fórmula 1 para se vender para o mundo? Receber a Copa Louis Vuitton, por exemplo, não basta?
- Crônica da morte anunciada: por conta da entrada do banco Santander como principal patrocinador, a McLaren já havia feito a apresentação de seu carro neste ano nas ruas de Valência, possivelmente em traçado parecido com o que deve ser visto pelas demais equipe nos ano que vem. Que diferença não faz um Fernando Alonso, não?
- Para quem quiser acompanhar mais da sem-vergonhice do Pan, recomendo o Blog do Juca Kfouri e o A Verdade do Pan. Sem tem novidade sujeirada por lá.
- Por fim: alguém duvida da possibilidade de termos Pelé à frente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014? Afinal, alguém tem que distrair a festa para que os convidados não vejam o que se passa na cozinha.

Imagens: Derapate.it (Circuito Ricardo Tormo) e World Stadiums (Engenhão)

07 junho 2007

De olho em Pavlyuchenkova

Qualquer um que acompanhe um pouco melhor o tênis feminino reconhece que a Rússia tem apresentado algumas das melhores representantes do esporte nos últimos anos. Além de ter Maria Sharapova, Svetlana Kuznetsova e Anna Chakvetadze em excelente momento, o país ainda conta com Dinara Safina, Nadia Petrova, Elena Dementieva e Vera Zvonareva entre as melhores do mundo na atualidade no ranking da WTA, ainda que passando por fases irregulares.

Mas mesmo um celeiro tão fértil quanto o Leste Europeu ainda tem espaço para mais uma revelação. Por isso, o nome de Anastasia Pavlyuchenkova deve ser olhado com atenção nos próximos anos, sob o risco de termos logo outra top ten da WTA e potencial vencedora de títulos importantes.


Não é para menos que se cria tamanha expectativa na Rússia em torno do nome de Pavlyuchenkova. Profissional desde dezembro de 2005, esta tenista destra e fã de quadras de piso rápido deixou uma bela imagem entre as juvenis da ITF, conquistando os Abertos da Austrália (foto) e dos EUA da categoria no ano passado. De quebra, ainda mostrou versatilidade e faturou os títulos de duplas na Austrália, de Roland Garros e de Wimbledon, além do Mundial Juvenil da ITF do mesmo ano.

Não se trata apenas de um belo cartão de visitas, mas dos primeiros resultados de uma longa aposta. Nascida em 3 de julho de 91, Anastasia foi apresentada ao esporte logo aos seis anos pelos pais, Sergey e Marina, ambos treinadores. Até hoje, a mãe é companhia freqüente em suas viagens – a exemplo de seu irmão e técnico, Aleksandr. Ou seja; não é de hoje que a garota dedica seu tempo a se tornar uma das melhores do mundo, o que lhe garantiu uma experiência vasta e precoce, domínio de três idiomas – russo, inglês e tcheco – e o curso paralelo do primeiro ano do Sportivniy Licey, equivalente ao Ensino Médio no Brasil. Todos muito bem administrados, diga-se de passagem.


A russa ainda não conquistou torneios profissionais Tier I ou Tier II da WTA, mas os resultados de sua primeira temporada completa mostram que eles são questão de tempo. Logo em março de 2006, ela caiu nas quartas-de-final do future de São Petersburgo, sua terceira competição oficial, perdendo para a compatriota Alla Kudryavtseva (número 103 do mundo). O resultado não impediu que ela conquistasse o título das duplas no torneio, atuando ao lado de Yulia Solonitskaya.

Pensa que acabou? Em seu retorno às quadras, no mês de maio, foi a vez de conquistar o future de Casale, na Itália, onde ainda ficou com o vice-campeonato da chave de duplas. Na campanha até o título, ela passou pela italiana Anna Floris, principal favorita, logo na segunda rodada; na seqüência, Pavlyuchenkova despachou a também russa Irina Smirnova, sua parceira nas duplas, antes de vencer a final contra a italiana Stefania Chieppa, cabeça-de-chave número dois.

Bem que a russa tentou queimar etapas e arriscar a sorte em torneios WTA antes da hora, mas acabou eliminada logo na estréia do torneio de Moscou, em outubro. A adversária era ninguém menos do que a tcheca Nicole Vaidisova, décima melhor tenista do mundo na atualidade e que levou a melhor com um duplo 6/3. No mês seguinte, Pavlyuchenkova ainda foi vice-campeã do future de Minsk.


Tudo isso fez com que a estreante russa terminasse sua primeira temporada como a número 402 do mundo. Parece ruim? Sua chegada à terceira rodada do qualifying do Aberto da Austrália deste ano (foto) e na segunda rodada do torneio de Minsk mostram que não, jogando esta fã de Ashton Kutcher, Pink e Marcos Baghdatis para a 282ª colocação do ranking da WTA em março, sua melhor posição na curta carreira.

Desde então, Pavlyuchenkova disputou apenas quatro partidas, vencendo uma e perdendo três. Acabou caindo para a 304ª colocação da lista das melhores tenistas profissionais do mundo, o que precisa ser observado com carinho mesmo assim. Se compararmos a posição do ranking no final de sua temporada de estréia com o equivalente de algumas das principais tenistas da atualidade, a jovem revelação russa fica atrás da belga Justine Henin (226ª em 98) e da russa Maria Sharapova (186ª em 2002), mas supera com folga a francesa Amélie Mauresmo (827ª em 94) e a também russa Svetlana Kuznetsova (889ª em 2000). Por isso, não seria surpresa ver Pavlyuchenkova entre as 100 melhores do mundo já neste ano, as 50 melhores em 2008, as 20 melhores em 2009...

Imagens: JuniorTennis.com (Aberto da Austrália 2006), WTA/Divulgação (Perfil) e Aaron Francis/Getty Images (Aberto da Austrália 2007).

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27 abril 2007

Amor, estranho amor


Uma notícia na capa do portal Terra chamou muita atenção na quinta-feira, dia 26 de abril. Segundo a nota, a ex-BBB 7 Íris preferia passa fome a fazer filmes pornôs. Promovida a celebridade instantânea pelo reality show da Rede Globo, a mineira teria sido convidada pela produtora Brasileirinhas (que desmentiu o convite no mesmo dia) a participar de uma de suas produções.

O que há de novo nisso? Simples. Ela não vai fazer o filme, mas o mercado pornográfrico do Brasil agradece a atenção - e as especulações - da qual tem sido pivô nos anos mais recentes. A produção pornográfica brasileira tem passado por um período de ascensão - ou melhor, de aceitação - jamais visto. Antes relegado às subproduções desconhecidas escondidas em videolocadoras, o pornô nacional hoje se dá ao luxo de produzir títulos conhecidos, com atores famosos e de se envolver em boatos com nomes que passam pelo auge de sua fama, por mais fugaz que ela seja.

Íris jamais vai ser uma Gisele Bundchen. Talvez sequer chegue a uma Cristina Mortágua. Porém, pelos próximos meses ela poderá nadar de braçada nas festas VIPs, nos camarotes de micaretas e em eventos de revistas. Ou seja: não precisa mesmo dar sua contribuição a uma fita de sexo explícito. Porém, seja o convite verdadeiro ou não, o mercado pornográfico brasileiro hoje parece ter cacife suficiente para bancar uma contratação de nome como seria a dela hoje.

E tudo isso graças à inesperada aceitação do público à participação de famosos decadentes nos pornôs. Resgatado pelo SBT para o programa Casa dos Artistas em 2002, o veterano galã carioca Alexandre Frota embarcou nessa no ano seguinte, meio que por brincadeira - mas meio por gostar da coisa também. Aproveitando-se o bom momento de Frota, o filme Obsessão (2003) foi um sucesso, dentro dos parâmetros esperados. E acabou abrindo as portas para outras subcelebridades que toparam a entrada nesse nicho. A partir daí, Bruna Surfistinha, Vivi Fernandes, Mateus Carrieri, Rita Cadillac, Gretchen e Márcia Imperator começaram a se arriscar, ganhar espaço e se tornaram mais conhecidos em outras esferas.

Quatro anos depois do debut de Frota, o mercado pornográfico do Brasil hoje pode se gabar de contratar nomes conhecidos da mídia em geral. Regininha Poltergeist, por exemplo, já teria assinado contrato para três filmes. Para Alexandre Frota, a nova carreira se mostrou mais promissora do que a convencional: foram sete filmes entre 2003 e 2006, sendo que o oitavo está sendo rodado com Márcia Imperator. Na carreira cinematográfica convencional, enquanto não perdeu espaço, foram apenas seis as películas filmadas entre 84 e 91. Para nomes como Gretchen e Rita Cadillac, foi a volta à condição de musa e a conquista de novos “fãs” de seus atributos. E fazendo um trabalho que, vá lá, não difere tanto assim do que elas já faziam.

Não se espera que a aceitação do conservador público brasileiro seja como a que acontece nos EUA, onde Jenna Jameson chegou a manter um relacionamento público e sem problemas com Matt LeBlanc (o Joey Tribbiani, de Friend), ou onde Kim McKamy (ou Ashlyn Gere) atuou em um papel convencional em um episódio de 1994 de The X-Files (nosso bom e velho “Arquivo X”). Mas não se pode esquecer que nomes mais conhecidos da TV nacional chegaram a atuar com sucesso durante o período sombrio da pornochanchada. Casos como o de Vera Fischer, Nuno Leal Maia, Xuxa e David Cardoso – outro veterano galã e um dos poucos que conseguiu conciliar por algum tempo as carreira convencional e “chanchadística”.

Ainda vai demorar para que o Brasil aceite esse novo mercado, mas Frota não pode reclamar dos frutos que vem colhendo desde mudou de ramo. Talvez a ex-BBB Íris não goste muito do convite agora, mas é fato que o pornô brasileiro passa por seu melhor momento. Talvez no futuro, esse espaço possa ser explorado de maneira mais comercial, e ela se arrependerá. Tudo graças ao “sim” de Alexandre Frota em 2003.

Imagens: Marcelo Corrêa/Divulgação (Íris), Brasileirinhas/Divulgação (Frota) e Sports Illustrated (Jenna Jameson)

07 abril 2007

Vale lembrar!

Este blog está vivo. Só está parado por conta do Google que, ao lado da Red Bull e da Bet and Win, é uma das corporações que quer comprar o mundo!

26 janeiro 2007

Burocásper

25 janeiro 2007

Tentativa de cor

22 janeiro 2007

O fracasso de Festival Express

Festival Express, está aí um filme que me decepcionou. Para quem não sabe, o Festival Express foi uma iniciativa de reunir músicos de diversas bandas de rock, blues e folk e excursionar pelo Canadá de Leste a Oeste com paradas periódicas para apresentações em diferentes cidades. Entre os nomes de destaque estão Janis Joplin (cuja música eu nunca apreciei e cuja pessoa sempre me amedrontou), The Band, Greatful Dead e Buddy Guy. Os nomes pesam, de fato, mas as apresentações deixam muito a desejar. O Greatful Dead parece mais um bando de jovens brancos evangélicos querendo pregar as palavras de Cristo; Buddy Guy tem na garrafa de uísque o seu braço direito, sem a qual seria incapaz de tirar três notas da guitarra surrada; Janis Joplin é assustadora em seus gemidos carentes e The Band, que chega a ser o único destaque entre os nomes já mencionados, não apresenta nada de especial. Para piorar, a execução das músicas é repetitiva e enfadonha, todas elas bebem na esgotada fonte do blues e as letras são um tanto quanto ingênuas. A experiência deve ter sido inesquecível para os músicos, de fato, que bebiam, comiam, faziam música, sexo e se entupiam de todo o tipo de entorpecentes até o amanhecer, tudo bancado por um avarento produtor estilo-macho-alfa-do-oeste sem muita visão de negócios. Ao fim do filme, você tem a leve sensação de que escutou uma só música ao longo de duas horas. Contudo, há uma razão de ser nisso tudo: 1970 é um ano de ruptura no mundo do rock, seja pelo fim dos Beatles, seja pelo aparecimento de novas bandas no jogo. Desde 1967 o rock já vinha amadurecendo com o lançamento de álbuns importantes, como Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles e The Piper at the Gates of Down, do Pink Floyd. O gênero deixava de ser um mero veículo de diversão para apreciadores mais ortodoxos que viam na música simplesmente uma forma de dançar e se distrair. O chamado "rock progressivo" tomava corpo com letras que tratavam de temas mais profundos à natuerza humana e ousadas melodias, que, não raro, ultrapassavam as próprias barreiras do rock 'n roll tradicional. Por isso Festival Express é tão sonolento, porque seus músicos pararam no meio do caminho. Continuaram a fazer música de pré-adolescente em um tempo em que o rock já batia nas portas da maturidade. Mas quem quiser uma aventura descompromissada, pode desembolsar uma graninha e alugar o filme. Eu não recomendo.